alfabeto

27.10.08

Sophia de Mello Breyner Andressen


Manuel Bandeira


Este poeta está
Do outro lado do mar
Mas reconheço a sua voz há muitos anos
E digo ao silencio os seus versos devagar

Relembrando
O antigo jovem tempo quando
Pelos sombrios corredores da casa antiga
Nas solenes penumbras do silêncio
Eu recitava"As três mulheres do sabonete Araxá"
E minha avó se espantava.

Manuel Bandeira era o maior espanto da minha avó
Quando em manhãs intactas e perdidas
No quarto já então pleno de futura
Saudade
Eu lia
A canção do "Trem de ferro"
e o "Poema do beco".

Tempo antigo, lembrança demorada
Quando deixei uma tesoura esquecida nos ramos da cerejeira
Quando
Me sentava nos bancos pintados de fresco
E no Junho inquieto e transparente
As três mulheres do sabonete Araxá
Me acompanhavam
Tão visiveis
Que um eléctrico amarelo as decepava.

Estes poemas caminharam comigo e com a brisa
Nos passeados campos de minha juventude
Estes poemas poisaram a sua mão sobre o meu ombro
E foram parte do tempo respirado.


( 1967)


19.10.08

Jade Dantas

Sublimação

Encontra-me no beijo
que te envio.

Toca a espera do meu corpo
a sonhar o teu.

Flutua, amado,
entre mim e o que és.


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