alfabeto

26.12.08

L. Rafael Nolli


Balada homicida

É preciso matar o vizinho com um tiro de fuzil,
antes que ele compreenda os textos sagrados
e venha, como irmão, a seu lar,
comer do seu pão e beber do seu vinho.

É preciso degolar os amigos,
ou enforcá-los em seus cadarços
(eles não usam gravatas),
antes que eles entendam Marx,
decretem o fim da era dos desiguais
e venham exigir que você participe do combate,
deixando para trás sua coleção de tampinhas
de refrigerantes
e de caixinhas de Malrboro.

É preciso matar os homens
– contrariando Drummond –
antes que eles entendam a poesia que há nas coisas
e comecem a distribuí-la em seus gestos diários.
Assassiná-los antes que liguem para a sua casa
e convidem-no para ver a lua
ou um mosquito de Proust,
retirando você de seu conforto militar, remediado.

É preciso se matar, sobretudo se matar,
antes que a vida se refaça no interior dos lares
e a alegria volte a corar a face dos homens:
antes que eles se compreendam, venham à sua porta
e a derrubem, por acreditarem-na obsoleta.



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7.12.08

Rei Berroa


Tres Variaciones Sobre el Tema de la Paz y la Paloma

I

Es tanta la paz de una paloma
que dicen los expertos en la paz
que sólo bastaría una paloma
para traer sobre la tierra toda la paz
que buscan los humanos sin saberlo.

II

Son tantas las palomas de la paz
que dicen los expertos en palomas
que sólo una paz sería necesaria
para atraer a todas las palomas
que buscan al humano sin remedio.

III

Si la paz se vistiera de paloma
dicen los expertos en humanos
con una sola paz nos bastaría
para darle sus alas a la tierra
haciendo del humano una paloma.

No es mucho pedirle
a la paz o a la paloma.