alfabeto

23.10.06

Jorge Vicente


o sono das aves

os homens contam os anos

à medida do sono das aves

debaixo da serrania e das neves,
alevanta-se um vasto império,
onde os reis não quebram,
refulgem e dormem em
romaria de corpos duros, não
vendo o deus que carrega aos ombros
a campina negra, a voz dos
viajantes que vão passando

regressam a um tempo em que
as aves marcavam as horas e
as resumiam na cronologia de
um verso


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16.10.06

João Cabral de Melo Neto


Artista Inconfessável

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.