alfabeto

25.3.06

Jussara Midlej


(Deter)minação



Faço minha vida — parcerias —
acaso e sorte, causa, (e)feitos, jeitos...
Se não me apraz
me ergo e
— livre arbítrio, tudo mudo

(re)descubro rotas, movimentos de fuga,
refúgios, quebrantos...
Se não me apraz
me ergo e
— livre arbítrio, tudo (re)ajusto

vem miscelânea-surpresa
— e convida de novo a
possíveis (im)possibilidades:
encaminhar (des)caminhos
(re)desenhar rotas minhas

me ergo e
— livre arbítrio, tudo mudo, fala
de (re)ajustes, (a)jeitos
de complexos (tre)jeitos.

(Des)associada, a vida é clara: rala.


17.3.06

Jarbas Martins


Soneto

onde se trata da matéria do canto e
de concerto (enguiçado) no ar

É de surpresa real, e não de invento,
que meu canto se nutre. É de nonada:
gaivota em pleno vôo e mar e vento —
viva escritura, sob o azul, lavrada.

Ante o que é breve e passa, pouco intento:
expurgo a vã palavra. (Nada, nada
me desconcerta mais do que o evento
de vê-la, nesta folha, restaurada).

Se me ocorre o poema, apenas tomo
o tempo em que ele paira, irresoluto,
entre a consumação e o desacerto.

Mas se me esvai, deixo-o de lado como
um canto que se perde, sem reduto,
enguiçado, no ar, o seu concerto.


7.3.06

Julieta Lima


De noite
quando todos dormem
saímos voando
— asa ante asa —
até à estrela combinada

Os inocentes dormem
enquanto nós
por entre sóis e escarpas
ardemos enlaçados

E ao amanhecer
— asa ante asa—
serenos saciados

Voltamos
e nos respectivos leitos
aquecemos os pés no calor
embirrante
dos mortais que enganamos.